30 May 2010
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Entrevista a Graça Loureiro
1.Sabemos que já fazes fotografia há alguns anos, como surgiu esse interesse?
Penso que desde cedo (talvez mais cedo do que me possa lembrar) me senti atraída pela fotografia, pela ideia de haver vida contida numa imagem, pelas suas cores, pelos lugares e pelas pessoas. Sempre gostei de tirar fotografias mas em nenhum momento pensei que a fotografia iria ter o impacto que teve na minha vida. Curiosamente, comecei a pensar em comprar uma máquina digital porque escrevia num blog na net e apercebi-me de que nalguns blogs eram as próprias pessoas que tiravam e colocavam as suas próprias fotografias. Achei que não devia ser difícil e que não haveria mal nenhum em tentar. Comprei a máquina, mais ou menos por volta de Novembro de 2004. Comecei a experimentar. Afinal não era assim tão fácil. Deixei o blog (que mal tinha começado). E nunca mais parei de fotografar…
2.Como descreves o panorama actual da fotografia, achas que é uma arte que está em crescimento?
Não sei se é uma arte em crescimento ou se, cada vez mais, existe um maior número de pessoas que tem acesso a equipamentos fotográficos, de iluminação (…) e desenvolve o interesse por esta arte. O facto de se tornar mais acessível a (quase) todos pode ser visto como um aspecto positivo ou negativo: por um lado banaliza a fotografia porque se torna um lugar comum (têm acesso todos os que podem e têm recursos para tal) e por outro permite que algumas pessoas com talento tenham a possibilidade de emergir (o que noutra altura não aconteceria por estar reservado a um grupo restrito de pessoas).
3.Achas que a fotografia é uma arte “egoísta”? Pergunto isto porque há sempre uma relação entre ti e a máquina a que ninguém mais tem acesso.
Toda a criação é egoísta. Deixa de ser egoísta a partir do momento em que a partilhamos com o mundo. Cada vez mais existem menos “criações egoístas” porque a maior parte delas são expostas na Internet, sendo desta forma mais partilhadas e mais acessíveis a todos.
4.És conservadora e continuas a entender que a verdadeira fotografia deve ser tirada no sistema de rolo, e esperar para ver o resultado final mais tarde, ou já te rendeste completamente ao digital?
Não considero conservador todo aquele que se mantém fiel à fotografia analógica. Apesar de ter havido uma evolução ao longo dos tempos no campo da fotografia digital, não quer dizer que a fotografia analógica tenha estagnado. Penso é que, tendo em conta os custos que acarreta fazer fotografia analógica faz com que os mais entusiastas desistam desta forma de arte. Mas, respondendo à pergunta: rendi-me desde sempre ao digital porque não iniciei o meu percurso na fotografia (em 2004) com uma máquina analógica mas sim com uma digital.
5.Não achas que o digital pode por em causa alguns conceitos fotográficos? Isto porque quando se usava o analógico, as fotografias eram pensadas e estudadas, agora com o digital tiram-se mil fotos e no fim uma vai ser boa de certeza.
A pergunta também se pode colocar de outra maneira: será que todos os que tiram fotografias com rolo pensam e estudam realmente as fotos que vão tirar e será que os que usam digital “disparam” tantas vezes quantas as que o cartão de memória permite. Ou seja, penso que depende mais do utilizador (do fotógrafo) do que do material fotográfico em si. É claro que, como foi mencionado anteriormente, há uma restrição no analógico principalmente por ser mais dispendioso em termos monetários e de tempo. Em relação ao “analógico versus digital”: não sei se se trata de como se faz mas o que se faz com o que se tem.
6.Fala-nos agora um pouco do teu trabalho, o teu conceito foi sempre o auto-retrato? O meu trabalho é sobretudo intuitivo, fruto do próprio momento e da minha imaginação. Busco inspiração em tudo que vejo, e constantemente sou sobressaltada por ideias nos lugares mais insólitos.
Tem alturas em que respiro fotografia: em que me deito e acordo a pensar em fotografia. E nessas alturas a minha atenção focaliza-se na (re)criação dos contextos e tendo a investir bastante nos acessórios, nos pormenores até alcançar as minhas ideias. Comecei a auto retratar-me pelo simples facto de ser a modelo “mais à mão”. No inicio, não tinha modelos e a maior parte das minhas amigas/familiares não “confiavam” o suficiente para se entregarem à minha “objectiva”. Depois, à medida que fui fazendo alguns auto-retratos, as pessoas começaram a achar interessante e queriam também fazer parte desse mundo. Comecei a ter maior facilidade em ganhar a confiança das pessoas, principalmente porque eu própria confiava no meu trabalho. Assim que começamos a definir melhor o nosso trabalho e quando os outros o vão identificando, torna-se mais fácil conseguir que as pessoas se interessem por fazer parte do nosso “projecto”. Uma das maiores vantagens no auto-retrato talvez seja o facto de o “modelo” saber o que vai na cabeça do “fotógrafo” e vice-versa mas deixa de existir a interacção fotógrafo/modelo que há quando o objecto da fotografia não é o próprio. Enquanto fotógrafa não gostaria de me resumir aos auto-retratos porque me sinto impelida a “explorar” outros mundos que não o meu próprio. Gosto, particularmente, de mostrar a minha perspectiva dos outros através da objectiva mas sinto que não deixarei de fazer auto-retrato. No meu entendimento, todas as minhas fotografias são um auto-retrato, independentemente de quando sou ou não o objecto central da fotografia, pois considero que ao fotografarmos estamos sempre a mostrar algo de nós através da nossa perspectiva. Por mais objectivos que tentemos e queiramos ser, dificilmente conseguimos pôr de lado a nossa subjectividade.
7.Tens algum fotógrafo que gostes particularmente, até que ponto o trabalho dele influenciou o teu?
De forma consciente, não fui influenciada por nenhum fotógrafo, o que não quer dizer que a nível intuitivo não me tenha inspirado noutros trabalhos. Mas penso que, no geral, a minha inspiração vem do fantástico, do lúdico, do surreal e das histórias de quando era criança.
8. Para terminar, e agradecer a tua disponibilidade para esta curta entrevista, queres dirigir algumas palavras paras os jovens que se estão a iniciar na fotografia?
Para todos aqueles que querem tornar-se profissionais e encetar os seus próprios projectos, o único conselho que posso dar é: amar o que se faz, perseverança, respeito com os colegas e muita paciência. Como o nosso poeta escreveu “Para ser grande, sê inteiro: nada teu exagera ou exclui. Sê todo em cada coisa. Põe quanto és no mínimo que fazes.”
1.Sabemos que já fazes fotografia há alguns anos, como surgiu esse interesse?
Penso que desde cedo (talvez mais cedo do que me possa lembrar) me senti atraída pela fotografia, pela ideia de haver vida contida numa imagem, pelas suas cores, pelos lugares e pelas pessoas. Sempre gostei de tirar fotografias mas em nenhum momento pensei que a fotografia iria ter o impacto que teve na minha vida. Curiosamente, comecei a pensar em comprar uma máquina digital porque escrevia num blog na net e apercebi-me de que nalguns blogs eram as próprias pessoas que tiravam e colocavam as suas próprias fotografias. Achei que não devia ser difícil e que não haveria mal nenhum em tentar. Comprei a máquina, mais ou menos por volta de Novembro de 2004. Comecei a experimentar. Afinal não era assim tão fácil. Deixei o blog (que mal tinha começado). E nunca mais parei de fotografar…
2.Como descreves o panorama actual da fotografia, achas que é uma arte que está em crescimento?
Não sei se é uma arte em crescimento ou se, cada vez mais, existe um maior número de pessoas que tem acesso a equipamentos fotográficos, de iluminação (…) e desenvolve o interesse por esta arte. O facto de se tornar mais acessível a (quase) todos pode ser visto como um aspecto positivo ou negativo: por um lado banaliza a fotografia porque se torna um lugar comum (têm acesso todos os que podem e têm recursos para tal) e por outro permite que algumas pessoas com talento tenham a possibilidade de emergir (o que noutra altura não aconteceria por estar reservado a um grupo restrito de pessoas).
3.Achas que a fotografia é uma arte “egoísta”? Pergunto isto porque há sempre uma relação entre ti e a máquina a que ninguém mais tem acesso.
Toda a criação é egoísta. Deixa de ser egoísta a partir do momento em que a partilhamos com o mundo. Cada vez mais existem menos “criações egoístas” porque a maior parte delas são expostas na Internet, sendo desta forma mais partilhadas e mais acessíveis a todos.
4.És conservadora e continuas a entender que a verdadeira fotografia deve ser tirada no sistema de rolo, e esperar para ver o resultado final mais tarde, ou já te rendeste completamente ao digital?
Não considero conservador todo aquele que se mantém fiel à fotografia analógica. Apesar de ter havido uma evolução ao longo dos tempos no campo da fotografia digital, não quer dizer que a fotografia analógica tenha estagnado. Penso é que, tendo em conta os custos que acarreta fazer fotografia analógica faz com que os mais entusiastas desistam desta forma de arte. Mas, respondendo à pergunta: rendi-me desde sempre ao digital porque não iniciei o meu percurso na fotografia (em 2004) com uma máquina analógica mas sim com uma digital.
5.Não achas que o digital pode por em causa alguns conceitos fotográficos? Isto porque quando se usava o analógico, as fotografias eram pensadas e estudadas, agora com o digital tiram-se mil fotos e no fim uma vai ser boa de certeza.
A pergunta também se pode colocar de outra maneira: será que todos os que tiram fotografias com rolo pensam e estudam realmente as fotos que vão tirar e será que os que usam digital “disparam” tantas vezes quantas as que o cartão de memória permite. Ou seja, penso que depende mais do utilizador (do fotógrafo) do que do material fotográfico em si. É claro que, como foi mencionado anteriormente, há uma restrição no analógico principalmente por ser mais dispendioso em termos monetários e de tempo. Em relação ao “analógico versus digital”: não sei se se trata de como se faz mas o que se faz com o que se tem.
6.Fala-nos agora um pouco do teu trabalho, o teu conceito foi sempre o auto-retrato? O meu trabalho é sobretudo intuitivo, fruto do próprio momento e da minha imaginação. Busco inspiração em tudo que vejo, e constantemente sou sobressaltada por ideias nos lugares mais insólitos.
Tem alturas em que respiro fotografia: em que me deito e acordo a pensar em fotografia. E nessas alturas a minha atenção focaliza-se na (re)criação dos contextos e tendo a investir bastante nos acessórios, nos pormenores até alcançar as minhas ideias. Comecei a auto retratar-me pelo simples facto de ser a modelo “mais à mão”. No inicio, não tinha modelos e a maior parte das minhas amigas/familiares não “confiavam” o suficiente para se entregarem à minha “objectiva”. Depois, à medida que fui fazendo alguns auto-retratos, as pessoas começaram a achar interessante e queriam também fazer parte desse mundo. Comecei a ter maior facilidade em ganhar a confiança das pessoas, principalmente porque eu própria confiava no meu trabalho. Assim que começamos a definir melhor o nosso trabalho e quando os outros o vão identificando, torna-se mais fácil conseguir que as pessoas se interessem por fazer parte do nosso “projecto”. Uma das maiores vantagens no auto-retrato talvez seja o facto de o “modelo” saber o que vai na cabeça do “fotógrafo” e vice-versa mas deixa de existir a interacção fotógrafo/modelo que há quando o objecto da fotografia não é o próprio. Enquanto fotógrafa não gostaria de me resumir aos auto-retratos porque me sinto impelida a “explorar” outros mundos que não o meu próprio. Gosto, particularmente, de mostrar a minha perspectiva dos outros através da objectiva mas sinto que não deixarei de fazer auto-retrato. No meu entendimento, todas as minhas fotografias são um auto-retrato, independentemente de quando sou ou não o objecto central da fotografia, pois considero que ao fotografarmos estamos sempre a mostrar algo de nós através da nossa perspectiva. Por mais objectivos que tentemos e queiramos ser, dificilmente conseguimos pôr de lado a nossa subjectividade.
7.Tens algum fotógrafo que gostes particularmente, até que ponto o trabalho dele influenciou o teu?
De forma consciente, não fui influenciada por nenhum fotógrafo, o que não quer dizer que a nível intuitivo não me tenha inspirado noutros trabalhos. Mas penso que, no geral, a minha inspiração vem do fantástico, do lúdico, do surreal e das histórias de quando era criança.
8. Para terminar, e agradecer a tua disponibilidade para esta curta entrevista, queres dirigir algumas palavras paras os jovens que se estão a iniciar na fotografia?
Para todos aqueles que querem tornar-se profissionais e encetar os seus próprios projectos, o único conselho que posso dar é: amar o que se faz, perseverança, respeito com os colegas e muita paciência. Como o nosso poeta escreveu “Para ser grande, sê inteiro: nada teu exagera ou exclui. Sê todo em cada coisa. Põe quanto és no mínimo que fazes.”
Labels: entrevista Graça Loureiro, fotografia, Graça Loureiro, interview
04 April 2010
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Rita Lino
Entrevista a Rita Lino | http://www.ritalino.com
art musique
Quando descobriste a tua vocação para as artes? E porque a fotografia?
Rita Lino
Na verdade eu não vi a luz.... não foi uma chamada do senhor... fui me educando e as coisas surgiram... o interesse pela fotografia veio depois de ter estudado artes de ter pintado quadros e de ter feito bonecadas, não sei bem como veio acho que foi chegando devagarinho e instalou-se, o porque da fotografia e não outra forma de expressar-me? penso que seja pela instantaneidade que a fotografia te dá... eu sou
impulsiva, curiosa extremamente curiosa......
a.m.
O que te levou a ir para Barcelona? E o que pensas do panorama português quanto à fotografia e artes em geral?
R.L.
Vim estudar, fazer um mestrado em design editorial (outra das coisas que eu gosto, livros) e acabei por ficar cá a trabalhar, a estudar e começaram a nascer os projectos.
Sou de faro (não existe arte em faro) estudei 3 anos na Covilhã (não precisa de comentários) estive muitas vezes por Lisboa e o que conheço é de Lisboa, não posso falar do panorama português porque não o conheço, mas os que conheço são bons muito bons e pessoas cheias de atitude e vontade.
a.m.
Recentemente entraste no vídeo clip do David Fonseca (stop 4 a minute), como surgiu essa oportunidade?
R.L.
A oportunidade de entrar no vídeo clip do Fonseca foi simples ele conhece o meu trabalho e enviou me um email para colaborarmos, foi simples.
> ver o video - stop 4 a minute
a.m.
A possibilidade de parcerias apela-te ou sentes que o teu trabalho é fundamentalmente solitário? Podemos esperar algum tipo de colaboração com outros artistas para breve?
R.L.
Claro que sim! O meu trabalho pessoal é o meu trabalho pessoal não o misturo apenas me posso inspirar nele.
a.m.
Quais são os teus planos para o futuro? Pretendes voltar a Portugal ou o local onde te encontras é indiferente?
R.L.
Não faço a mínima ideia espero estar no outro lado do mundo.
a.m.
Qual foi o trabalho que mais te marcou até agora, porque?
R.L.
O que me marcou e que me marca e que não tem data de validade para terminar.... o da minha família e a minha relação com eles, o fotografar me com eles o utiliza-los como meu auto retrato.... sem duvida é o meu trabalho mais sentido
a.m.
És perfeccionista ou sentes que o rasgo de criatividade nasce principalmente de um impulso de momento?
R.L.
Sou impulsiva....o meu processo criativo funciona ao contrario, faço depois analiso, penso, escrevo, se não gosto volto a repeti-lo.
a.m.
Porque é que te fotografas a ti própria? Normalmente os fotógrafos gostam de se resguardar e ocultar-se atrás da camera...
R.L.
Fotografo-me porque o meu trabalho é auto retrato, gosto de me ver e me inventar e de me imaginar, mostro aquilo que não sou.
Rita Lino
Entrevista a Rita Lino | http://www.ritalino.com
art musique
Quando descobriste a tua vocação para as artes? E porque a fotografia?
Rita Lino
Na verdade eu não vi a luz.... não foi uma chamada do senhor... fui me educando e as coisas surgiram... o interesse pela fotografia veio depois de ter estudado artes de ter pintado quadros e de ter feito bonecadas, não sei bem como veio acho que foi chegando devagarinho e instalou-se, o porque da fotografia e não outra forma de expressar-me? penso que seja pela instantaneidade que a fotografia te dá... eu sou
impulsiva, curiosa extremamente curiosa......
a.m.
O que te levou a ir para Barcelona? E o que pensas do panorama português quanto à fotografia e artes em geral?
R.L.
Vim estudar, fazer um mestrado em design editorial (outra das coisas que eu gosto, livros) e acabei por ficar cá a trabalhar, a estudar e começaram a nascer os projectos.
Sou de faro (não existe arte em faro) estudei 3 anos na Covilhã (não precisa de comentários) estive muitas vezes por Lisboa e o que conheço é de Lisboa, não posso falar do panorama português porque não o conheço, mas os que conheço são bons muito bons e pessoas cheias de atitude e vontade.
a.m.
Recentemente entraste no vídeo clip do David Fonseca (stop 4 a minute), como surgiu essa oportunidade?
R.L.
A oportunidade de entrar no vídeo clip do Fonseca foi simples ele conhece o meu trabalho e enviou me um email para colaborarmos, foi simples.
> ver o video - stop 4 a minute
a.m.
A possibilidade de parcerias apela-te ou sentes que o teu trabalho é fundamentalmente solitário? Podemos esperar algum tipo de colaboração com outros artistas para breve?
R.L.
Claro que sim! O meu trabalho pessoal é o meu trabalho pessoal não o misturo apenas me posso inspirar nele.
a.m.
Quais são os teus planos para o futuro? Pretendes voltar a Portugal ou o local onde te encontras é indiferente?
R.L.
Não faço a mínima ideia espero estar no outro lado do mundo.
a.m.
Qual foi o trabalho que mais te marcou até agora, porque?
R.L.
O que me marcou e que me marca e que não tem data de validade para terminar.... o da minha família e a minha relação com eles, o fotografar me com eles o utiliza-los como meu auto retrato.... sem duvida é o meu trabalho mais sentido
a.m.
És perfeccionista ou sentes que o rasgo de criatividade nasce principalmente de um impulso de momento?
R.L.
Sou impulsiva....o meu processo criativo funciona ao contrario, faço depois analiso, penso, escrevo, se não gosto volto a repeti-lo.
a.m.
Porque é que te fotografas a ti própria? Normalmente os fotógrafos gostam de se resguardar e ocultar-se atrás da camera...
R.L.
Fotografo-me porque o meu trabalho é auto retrato, gosto de me ver e me inventar e de me imaginar, mostro aquilo que não sou.
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01 April 2010
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O PAVILHÃO RENDADO
O nosso colaborador Arqtº Márcio Costa que reside e trabalha na América do Sul entrevistou especialmente para o BLOG ARTMUSIQUE a empresa DOMO ARQUITECTOS,
Entrevista domo arquitetos | http://www.domo.arq.br
Márcio Costa
Em primeiro lugar, gostaria de saber como surgiu a ideia de entrar no mundo da arquitectura?
Matheus Secco
Na verdade quando entrei na Universidade de Brasília no curso de Arquitetura e Urbanismo eu me interessava por muita coisa relacionada à comunicação visual e artes visuais de uma maneira geral. Nesta época eu ambém me inscrevi no curso de Publicidade numa escola Privada, onde tinha aulas à noite. Ainda no meu primeiro ano de escola eu decidi seguir somente na escola de Arquitetura e Urbanismo, mas ainda assim eu trabalhei em um escritório de comunicação visual e design por 2 anos enquanto era estudante e depois disso também trabalhei na área de sinalização nos meus primeiros anos como profissional.
Mesmo antes de estudar arquitetura eu me interessava na maneira como um certo desenho de edifício ou praça pode promover o encontro de pessoas ou afastá-las, e acho que esta consciência foi o principal motivo pelo qual decidi seguir a profissão de arquiteto. Minha experiência em outras áreas também me ajudaram a ver a forma como nossa atividade pode se alimentar de várias fontes de conhecimento e interferir positivamente nas cidades e na vida das pessoas. O caráter muitidisciplinar da profissão é algo que sempre me interessou.
MC
Relativamente à sua formação académica, me fale um pouco do seu percurso pela Universidade de Brasília e da sua ida para a Bartlett
School of Architecture, em Londres e de que modo essas instituições o influenciaram na sua formação profissional?
Matheus Secco
A Universidade de Brasília/UnB foi criada efetivamente em 1962, portanto somente poucos anos depois da inauguração de Brasília. A escola de Arquitetura e Urbanismo da UnB está instalada em um edifício de Oscar Niemeyer, uma espécie de pavilhão de 800m de comprimento chamado Instututo Central de Ciências. O campus da UnB é povoado por edifícios de arquitetos modernistas de muito talento, alguns deles ainda são professores da escola de Arquitetura. Descrevo isso para ilustrar um pouco do ambiente que influenciava nosso ensino. Vários professores tinham trabalhado com o Oscar Niemeyer, alguns deles na construção de Brasília, então a história da criação de Brasília estava muito presente nas aulas e consequentemente tinha muita influência nos trabalhos de estudantes que eram produzidos ali, o modernismo era a corrente mais forte na escola. Os projetos eram apresentados de uma forma bem tradicional: Perspectiva, maquete, croquis e desenhos técnicos.
Por outro lado a abordagem de ensino da Bartlett School of Architecture, onde cursei meu mestrado em Architectural Design, era totalmente diversa. Falava-se muito sobre sensações e percepção de espaço, experimentação de materiais e abordagens de concepção de projeto que eram novas para mim. A “tradição” da escola, por assim dizer, era experimentar sem saber muito bem o que a experimentação poderia resultar. As apresentações de projeto muitas vezes se davam através de centenas de desenhos e dezenas de maquetes que muitas vezes não retratavam o edifício em si, pois eram experimentos isolados de ideias diversas. O produto que se exigia do estudante não era um projeto fechado, era sim a devida documentação do seu processo criativo. O diretor do meu mestrado era o Prof. Peter Cook, um dos cabeças do movimento Archigram dos anos sessenta é uma pessoa incrível, um cara muito inteligente. Suas ideias inflenciavam todo o direcionamento de ensino da escola. Eles não se interessavam muito em ver croquis de projeto, e sim saber o que a forma final de um projeto refletia do seu processo criativo.
Sendo assim, creio que a meu curso de graduação me deu bases para o entendimento da arquitetura em seu caráter humano e as bases técnicas do ofício. Depois disso a experiência de questionamento e experimentação do mestrado em contraposição ao o que tinha aprendido me deu instrumentos para exercitar uma certa liberdade na profissão, ou seja, de certa forma estas experiências me livraram de alguns preconceitos no exercício profissional.
MC
Na sua opinião, como descreve a situação actual das Universidades Brasileiras no ensino da arquitectura e na formação do arquitecto relativamente a outras Universidades da América Latina?
Matheus Secco
Existe uma tradição muito forte no ensino de arquitetura nas escolas brasileiras que é diretamente ligada às lições do nosso modernismo, e isso é um privilégio para as escolas daqui. Tive a oportunidade recente de participar de bancas de avaliação em boas faculdades como a PUC-Rio, UFRJ-Rio (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e na UnB e também como membro do júri na tradicional premiação anual brasileira para trabalhos acadêmicos de arquitetura, chamada Opera Prima. Pude ver que a quantidade de escolas aumentou muito e a qualidade do ensino não acompanhou necessariamente esta expansão de vagas. Portanto ainda é difícil avaliar a qualidade de muitas escolas recém-criadas. Desta forma, apesar do alto nível de ensino de algumas escolas, ainda é possível ver trabalhos da mais alta qualidade lado a lado com trabalhos com muito pouca qualidade em premiações de caráter nacional, ainda não existe uma média de produção acadêmica com um bom nível. Acho que é algo que tende a se equilibrar com o tempo.
Também já visitei a escola de arquitetura da UBA-Buenos Aires e a Católica de Santiago do Chile, e acompanho publicações sobre a arquitetura produzida nestes países e em países como Colômbia e México. Sobre as escolas que conheci na Argentina e Chile, fiquei com a impressão de que eles têm um alto nível técnico de ensino. Na Universidade Católica do Chile, por exemplo, existe uma ligação forte com a UPC (Politécnica da Cataluña), além do convênio com algumas faculdades americanas, e isso se reflete bastante no trabalho “egressos” mais ilustres desta escola. Na Argentina também há uma forte influência europeia no ensino e na produção arquitetônica, e a qualidade geral das escolas e maior. Na verdade existem menos escolas nestes dois países do que no Brasil.
Levando em conta o que eu conheço da recente produção de acadêmica de arquitetura latinoamericana eu acho que estamos vivendo um ótimo momento, um momento de diversidade e qualidade que pode influir na qualidade geral do ensino. Os profissionais recém formados têm encontrado melhores condições econômicas e sociais para o exercício da profissão e esta produção recente tem nos ajudado a debater sobre os caminhos da arquitetura contemporânea. Com isso também temos a oportunidade de mostrar para a sociedade a forma como a boa arquitetura pode influenciar positivamente no nosso ambiente urbano e discutir sobre o ensino de arquitetura.
MC
Falemos um pouco do vosso escritório. O vosso ateliê surgiu em 2008, porém vocês já tinham trabalhado juntos anteriormente? Conte-nos um pouco sobre a criação da “Domo Arquitetos”? (como se conheceram, quantos sao , e por ai fora)
Matheus Secco
Quando deixei o escritório de comunicação visual onde trabalhava até o ano de 2001 eu me juntei para trabalhar com outros 3 arquitetos que eu tinha conhecido na faculdade e com os quais tinham interesses diversos. Em 2003 eu parti para o mestrado, regressando em 2005 para trabalhar novamente com meus antigos colegas. Em 2006 fui morar no Rio de janeiro e trabalhar em um grande escritório carioca, através de uma colaboração que tínhamos iniciado com eles em um projeto Brasília. Este foi um período muito interessante, pois a escala de projetos era completamente diferente do que eu estava acostumado. Trabalhávamos em estádios, centros comerciais e edifícios de escritórios. Neste período eu ainda mantinha contato e colaborações com projetos em Brasília. Em 2008 me mudei novamente para Brasília, desta vez para reorganizar nosso escritório, comprar a parte de um dos sócios e recriar nossa colaboração com nosso nome atual. Isto se deu principalmente porquê começávamos a ter clientes que nos davam mais liberdade de criação, começávamos a ter projetos que considerávamos como sendo totalmente “nossos”.
Meus dois sócios Daniel Mangabeira e Henrique Coutinho portanto são pessoas que conheço desde a faculdade e com os quais já tenho trabalhado a quase 10 anos. Hoje nosso escritório tem mais 4 arquitetos e 3 estagiários, portanto somos 10 pessoas no total, trabalhando no mesmo ambiente.
MC
Relativamente ao vosso trabalho, depois da conclusão do famoso “pavilhão rendado” que projectos estão em curso agora no atelier?
Matheus Secco
O Pavilhão foi nossa obra mais divulgada por sites especializados e revistas de arquitetura e isso nos deixou muito felizes pois foi a primeira obra de arquitetura na qual tivemos total liberdade de criação. Desde então nós temos conseguido trabalhos nos quais temos mais liberdade de criação, pois o fato de ter algo “diferente” e construído nos deu certa credibilidade. Além disso o Pavilhão teve um custo relativamente baixo de construção e utilizou-se de materiais e elementos comuns à arquitetura moderna de Brasília, ainda que de uma forma não muito comum. Esta abordagem do Pavilhão é um exemplo do que procuramos conseguir no nosso escritório. Estamos no momento desenvolvendo três projetos residenciais e um projeto de um clube com os quais estamos bastante empolgados.
MC
A domo arquitectos se identifica ou busca influencia em algum tipo ou estilo de arquitectura? Qual a filosofia da empresa na abordagem dos projectos? (quais as metodologias de Projecto, coneitos, analises, enfim quais os vossos objectivos para cada projecto que efectuam.)
Matheus Secco
Cada projeto entra como algo totalmente novo aqui no escritório. Além das questões básicas com as quais nos preocupamos em todos os projetos como conforto térmico, limites de orçamento e sustentabilidade, procuramos nos libertar de uma identidade comum ou uma “assinatura” que esteja sempre presente. Gostamos de ver a arquitetura como uma expressão única, uma resposta à condições específicas de um certo cliente. Desta forma gostamos de pensar que os trabalhos que produzimos aqui podem ser vistos entre si como sendo de autoria de arquitetos diferentes,ainda que todos eles estejam preocupados em conseguir a arquitetura correta para cada situação.
Começamos um projeto com conversas longas com nossos clientes, e à partir daí tentamos detectar alguns desejos “ocultos” ou possibilidades que temos de propor uma síntese daquilo, mesmo que seja algo diferente do que foi pedido. Apresentamos referências de projetos nossos ou projetos favoritos do escritório e à partir daí tentamos mostrar que nosso trabalho não é exatamente fazer aquilo que nos pedem mas sim utilizar o que sabemos para ir além dos desejos mais literais do cliente e interpretá-los. Apresentamos em seguida nossa proposta, em plantas, perspectivas e maquetes, para então começarmos seu desenvolvimento. Também temos acompanhado de perto todas as obras, pois nossa mão-de-obra de construção aqui em Brasília ainda é muito deficiente.
Eu pessoalmente tenho meus arquitetos favoritos, ainda que suas obras sejam bastante diversas: SANAA, Herzog&DeMeuron, Adamo Faiden (Argentina), Pezo von Ellrischausen (Chile), Promontorio (Portugal) além de vários brasileiros como Angelo Bucci, Bernardes Jacobsen, Isay Weinfeld e Tryptique. Em Brasília, entre os arquitetos locais eu destacaria o Paulo Henrique Paranhos, Sérgio Parada e Atelier Paralelo.
MC
Para terminar, agora que o mundo inteiro está de olhos postos no Brasil, devido a prosperidade económica que o país atravessa, qual o seu olhar sobre o futuro da arquitectura brasileira, no Brasil e no Mundo?
Matheus Secco
Vemos o momento atual como uma oportunidade para elevar a qualidade da arquitetura brasileira, pois hoje temos uma situação econômica que permite com que vários bons profissionais colquem suas ideias em prática. O maior problema que encontramos hoje no Brasil para esta boa prática é a falta de conhecimento da sociedade em geral sobre a importânica de termos boa arquitetura. Desta forma, projetos públicos importantíssimos como a revitalização do Cais do Porto no Rio, a urbanização das Favelas no Rio e em São Paulo, projetos para mobiliário urbano de Brasília ou a feira livre da Torre de TV da cidade (projeto original de Lúcio Costa) são feitos em qualquer concurso público ou discussão de projetos que poderiam elevar o nível da arquitetura produzida por aqui. Desta forma estamos desperdiçando estas oportunidades iniciais para ter boa arquitetura no Brasil e envolver a sociedade e os arquitetos brasileiros numa discussão ampla sobre a cidade e a arquitetura que queremos no país. Ao mesmo tempo os ótimos exemplos de arquitetura no Brasil vindos de residências privadas ou edifícios privados contemporâneos, além dos poucos concursos públicos que são construídos como a sede do SEBRAE em Brasília (projeto de Álvaro Puntoni) mostram que temos a matéria-prima humana para a transformação positiva do nosso ambiente urbano. A criação do Conselho de Arquitetura e Urbanismo brasileiro, que até então não tínhamos, está próxima, e isso irá ser uma ferramenta importante para conseguirmos colocar a boa arquitetura como prioridade no desenvolvimento das nossas cidades.
Além disso acho que no Brasil nós sempre tivemos limitações técnicas e orçamentárias na criação da nossa arquitetura, e por isso até certo ponto estamos acostumados a fazer boa arquitetura com poucos “recursos”. Ao meu ver esta consciência sobre limitação de recursos e responsabilidade orçamentária são qualidades importantíssimas na arquitetura “pós-crise” de 2008. Ainda que as obras do SANAA ou Peter Zumthor (ganhadores dos recentes Pritzker Prizes de 2009 e 2010 respectivamente) não sejam obras de baixo custo, elas mostram uma tendência da arquitetura que resgata alguns valores modernistas e busca simplicidade formal com sensibilidade, o que vai na contramão dos excessos arquitetônicos dos anos 90 e começo do século XXI.
Texto descritivo - O Pavilhão Rendado
O Pavilhão Rendado é uma galeria de arte de 70m2 que foi construída durante uma exposição de arquitectura e design em Brasília. Sua "pele" externa é composta por uma combinação de 4 padrões diferentes de elementos vazados de betão,
conhecidos em Brasília como "cobogó". Estes blocos vazados foram extensamente utilizados nos corredores de ventilação dos edifícios modernos das primeiras superquadras de Brasília a serem construídas. Além de ser elemento construtivos de baixo custo eles permitem a iluminação natural controlada e ventilação natural aos ambientes onde ele é aplicado. A combinação
dos padrões de cobogós na fachada do Pavilhão faz referência aos tecidos rendados típicos da região Nordeste do Brasil.
A galeria é composta basicamente da superposição de uma caixa negra e de outra caixa branca. A parede negra é internamente utilizada para a exibição das obras do artista brasileiro Carlos Scliar. O acesso à galeria é feito através de uma rampa que conecta o bloco negro da composição ao de cor branca. Externamente esta parede se fecha quase completamente para a fachada oeste (com maior incidência solar) e possui uma camada de cobogós na cor negra sobre uma parede colorida que funciona como uma luminária nocturna. A parte interna desta "lâmpada urbana" pode ser vista através de uma pequena abertura no corredor de entrada.
A porção de cor branca do edifício funciona como uma caixa vazada de protecção solar para a caixa de vidro onde estão dispostas as pinturas, penduradas no teto através de cabos transparentes. Entre a camada vazada e a caixa de vidro se encontra um jardim de esculturas.
fotografias e texto cordialmente fornecidos pela DOMO ARQUITECTOS, direito reservado
O PAVILHÃO RENDADO
O nosso colaborador Arqtº Márcio Costa que reside e trabalha na América do Sul entrevistou especialmente para o BLOG ARTMUSIQUE a empresa DOMO ARQUITECTOS,
Entrevista domo arquitetos | http://www.domo.arq.br
Márcio Costa
Em primeiro lugar, gostaria de saber como surgiu a ideia de entrar no mundo da arquitectura?
Matheus Secco
Na verdade quando entrei na Universidade de Brasília no curso de Arquitetura e Urbanismo eu me interessava por muita coisa relacionada à comunicação visual e artes visuais de uma maneira geral. Nesta época eu ambém me inscrevi no curso de Publicidade numa escola Privada, onde tinha aulas à noite. Ainda no meu primeiro ano de escola eu decidi seguir somente na escola de Arquitetura e Urbanismo, mas ainda assim eu trabalhei em um escritório de comunicação visual e design por 2 anos enquanto era estudante e depois disso também trabalhei na área de sinalização nos meus primeiros anos como profissional.
Mesmo antes de estudar arquitetura eu me interessava na maneira como um certo desenho de edifício ou praça pode promover o encontro de pessoas ou afastá-las, e acho que esta consciência foi o principal motivo pelo qual decidi seguir a profissão de arquiteto. Minha experiência em outras áreas também me ajudaram a ver a forma como nossa atividade pode se alimentar de várias fontes de conhecimento e interferir positivamente nas cidades e na vida das pessoas. O caráter muitidisciplinar da profissão é algo que sempre me interessou.
MC
Relativamente à sua formação académica, me fale um pouco do seu percurso pela Universidade de Brasília e da sua ida para a Bartlett
School of Architecture, em Londres e de que modo essas instituições o influenciaram na sua formação profissional?
Matheus Secco
A Universidade de Brasília/UnB foi criada efetivamente em 1962, portanto somente poucos anos depois da inauguração de Brasília. A escola de Arquitetura e Urbanismo da UnB está instalada em um edifício de Oscar Niemeyer, uma espécie de pavilhão de 800m de comprimento chamado Instututo Central de Ciências. O campus da UnB é povoado por edifícios de arquitetos modernistas de muito talento, alguns deles ainda são professores da escola de Arquitetura. Descrevo isso para ilustrar um pouco do ambiente que influenciava nosso ensino. Vários professores tinham trabalhado com o Oscar Niemeyer, alguns deles na construção de Brasília, então a história da criação de Brasília estava muito presente nas aulas e consequentemente tinha muita influência nos trabalhos de estudantes que eram produzidos ali, o modernismo era a corrente mais forte na escola. Os projetos eram apresentados de uma forma bem tradicional: Perspectiva, maquete, croquis e desenhos técnicos.
Por outro lado a abordagem de ensino da Bartlett School of Architecture, onde cursei meu mestrado em Architectural Design, era totalmente diversa. Falava-se muito sobre sensações e percepção de espaço, experimentação de materiais e abordagens de concepção de projeto que eram novas para mim. A “tradição” da escola, por assim dizer, era experimentar sem saber muito bem o que a experimentação poderia resultar. As apresentações de projeto muitas vezes se davam através de centenas de desenhos e dezenas de maquetes que muitas vezes não retratavam o edifício em si, pois eram experimentos isolados de ideias diversas. O produto que se exigia do estudante não era um projeto fechado, era sim a devida documentação do seu processo criativo. O diretor do meu mestrado era o Prof. Peter Cook, um dos cabeças do movimento Archigram dos anos sessenta é uma pessoa incrível, um cara muito inteligente. Suas ideias inflenciavam todo o direcionamento de ensino da escola. Eles não se interessavam muito em ver croquis de projeto, e sim saber o que a forma final de um projeto refletia do seu processo criativo.
Sendo assim, creio que a meu curso de graduação me deu bases para o entendimento da arquitetura em seu caráter humano e as bases técnicas do ofício. Depois disso a experiência de questionamento e experimentação do mestrado em contraposição ao o que tinha aprendido me deu instrumentos para exercitar uma certa liberdade na profissão, ou seja, de certa forma estas experiências me livraram de alguns preconceitos no exercício profissional.
MC
Na sua opinião, como descreve a situação actual das Universidades Brasileiras no ensino da arquitectura e na formação do arquitecto relativamente a outras Universidades da América Latina?
Matheus Secco
Existe uma tradição muito forte no ensino de arquitetura nas escolas brasileiras que é diretamente ligada às lições do nosso modernismo, e isso é um privilégio para as escolas daqui. Tive a oportunidade recente de participar de bancas de avaliação em boas faculdades como a PUC-Rio, UFRJ-Rio (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e na UnB e também como membro do júri na tradicional premiação anual brasileira para trabalhos acadêmicos de arquitetura, chamada Opera Prima. Pude ver que a quantidade de escolas aumentou muito e a qualidade do ensino não acompanhou necessariamente esta expansão de vagas. Portanto ainda é difícil avaliar a qualidade de muitas escolas recém-criadas. Desta forma, apesar do alto nível de ensino de algumas escolas, ainda é possível ver trabalhos da mais alta qualidade lado a lado com trabalhos com muito pouca qualidade em premiações de caráter nacional, ainda não existe uma média de produção acadêmica com um bom nível. Acho que é algo que tende a se equilibrar com o tempo.
Também já visitei a escola de arquitetura da UBA-Buenos Aires e a Católica de Santiago do Chile, e acompanho publicações sobre a arquitetura produzida nestes países e em países como Colômbia e México. Sobre as escolas que conheci na Argentina e Chile, fiquei com a impressão de que eles têm um alto nível técnico de ensino. Na Universidade Católica do Chile, por exemplo, existe uma ligação forte com a UPC (Politécnica da Cataluña), além do convênio com algumas faculdades americanas, e isso se reflete bastante no trabalho “egressos” mais ilustres desta escola. Na Argentina também há uma forte influência europeia no ensino e na produção arquitetônica, e a qualidade geral das escolas e maior. Na verdade existem menos escolas nestes dois países do que no Brasil.
Levando em conta o que eu conheço da recente produção de acadêmica de arquitetura latinoamericana eu acho que estamos vivendo um ótimo momento, um momento de diversidade e qualidade que pode influir na qualidade geral do ensino. Os profissionais recém formados têm encontrado melhores condições econômicas e sociais para o exercício da profissão e esta produção recente tem nos ajudado a debater sobre os caminhos da arquitetura contemporânea. Com isso também temos a oportunidade de mostrar para a sociedade a forma como a boa arquitetura pode influenciar positivamente no nosso ambiente urbano e discutir sobre o ensino de arquitetura.
MC
Falemos um pouco do vosso escritório. O vosso ateliê surgiu em 2008, porém vocês já tinham trabalhado juntos anteriormente? Conte-nos um pouco sobre a criação da “Domo Arquitetos”? (como se conheceram, quantos sao , e por ai fora)
Matheus Secco
Quando deixei o escritório de comunicação visual onde trabalhava até o ano de 2001 eu me juntei para trabalhar com outros 3 arquitetos que eu tinha conhecido na faculdade e com os quais tinham interesses diversos. Em 2003 eu parti para o mestrado, regressando em 2005 para trabalhar novamente com meus antigos colegas. Em 2006 fui morar no Rio de janeiro e trabalhar em um grande escritório carioca, através de uma colaboração que tínhamos iniciado com eles em um projeto Brasília. Este foi um período muito interessante, pois a escala de projetos era completamente diferente do que eu estava acostumado. Trabalhávamos em estádios, centros comerciais e edifícios de escritórios. Neste período eu ainda mantinha contato e colaborações com projetos em Brasília. Em 2008 me mudei novamente para Brasília, desta vez para reorganizar nosso escritório, comprar a parte de um dos sócios e recriar nossa colaboração com nosso nome atual. Isto se deu principalmente porquê começávamos a ter clientes que nos davam mais liberdade de criação, começávamos a ter projetos que considerávamos como sendo totalmente “nossos”.
Meus dois sócios Daniel Mangabeira e Henrique Coutinho portanto são pessoas que conheço desde a faculdade e com os quais já tenho trabalhado a quase 10 anos. Hoje nosso escritório tem mais 4 arquitetos e 3 estagiários, portanto somos 10 pessoas no total, trabalhando no mesmo ambiente.
MC
Relativamente ao vosso trabalho, depois da conclusão do famoso “pavilhão rendado” que projectos estão em curso agora no atelier?
Matheus Secco
O Pavilhão foi nossa obra mais divulgada por sites especializados e revistas de arquitetura e isso nos deixou muito felizes pois foi a primeira obra de arquitetura na qual tivemos total liberdade de criação. Desde então nós temos conseguido trabalhos nos quais temos mais liberdade de criação, pois o fato de ter algo “diferente” e construído nos deu certa credibilidade. Além disso o Pavilhão teve um custo relativamente baixo de construção e utilizou-se de materiais e elementos comuns à arquitetura moderna de Brasília, ainda que de uma forma não muito comum. Esta abordagem do Pavilhão é um exemplo do que procuramos conseguir no nosso escritório. Estamos no momento desenvolvendo três projetos residenciais e um projeto de um clube com os quais estamos bastante empolgados.
MC
A domo arquitectos se identifica ou busca influencia em algum tipo ou estilo de arquitectura? Qual a filosofia da empresa na abordagem dos projectos? (quais as metodologias de Projecto, coneitos, analises, enfim quais os vossos objectivos para cada projecto que efectuam.)
Matheus Secco
Cada projeto entra como algo totalmente novo aqui no escritório. Além das questões básicas com as quais nos preocupamos em todos os projetos como conforto térmico, limites de orçamento e sustentabilidade, procuramos nos libertar de uma identidade comum ou uma “assinatura” que esteja sempre presente. Gostamos de ver a arquitetura como uma expressão única, uma resposta à condições específicas de um certo cliente. Desta forma gostamos de pensar que os trabalhos que produzimos aqui podem ser vistos entre si como sendo de autoria de arquitetos diferentes,ainda que todos eles estejam preocupados em conseguir a arquitetura correta para cada situação.
Começamos um projeto com conversas longas com nossos clientes, e à partir daí tentamos detectar alguns desejos “ocultos” ou possibilidades que temos de propor uma síntese daquilo, mesmo que seja algo diferente do que foi pedido. Apresentamos referências de projetos nossos ou projetos favoritos do escritório e à partir daí tentamos mostrar que nosso trabalho não é exatamente fazer aquilo que nos pedem mas sim utilizar o que sabemos para ir além dos desejos mais literais do cliente e interpretá-los. Apresentamos em seguida nossa proposta, em plantas, perspectivas e maquetes, para então começarmos seu desenvolvimento. Também temos acompanhado de perto todas as obras, pois nossa mão-de-obra de construção aqui em Brasília ainda é muito deficiente.
Eu pessoalmente tenho meus arquitetos favoritos, ainda que suas obras sejam bastante diversas: SANAA, Herzog&DeMeuron, Adamo Faiden (Argentina), Pezo von Ellrischausen (Chile), Promontorio (Portugal) além de vários brasileiros como Angelo Bucci, Bernardes Jacobsen, Isay Weinfeld e Tryptique. Em Brasília, entre os arquitetos locais eu destacaria o Paulo Henrique Paranhos, Sérgio Parada e Atelier Paralelo.
MC
Para terminar, agora que o mundo inteiro está de olhos postos no Brasil, devido a prosperidade económica que o país atravessa, qual o seu olhar sobre o futuro da arquitectura brasileira, no Brasil e no Mundo?
Matheus Secco
Vemos o momento atual como uma oportunidade para elevar a qualidade da arquitetura brasileira, pois hoje temos uma situação econômica que permite com que vários bons profissionais colquem suas ideias em prática. O maior problema que encontramos hoje no Brasil para esta boa prática é a falta de conhecimento da sociedade em geral sobre a importânica de termos boa arquitetura. Desta forma, projetos públicos importantíssimos como a revitalização do Cais do Porto no Rio, a urbanização das Favelas no Rio e em São Paulo, projetos para mobiliário urbano de Brasília ou a feira livre da Torre de TV da cidade (projeto original de Lúcio Costa) são feitos em qualquer concurso público ou discussão de projetos que poderiam elevar o nível da arquitetura produzida por aqui. Desta forma estamos desperdiçando estas oportunidades iniciais para ter boa arquitetura no Brasil e envolver a sociedade e os arquitetos brasileiros numa discussão ampla sobre a cidade e a arquitetura que queremos no país. Ao mesmo tempo os ótimos exemplos de arquitetura no Brasil vindos de residências privadas ou edifícios privados contemporâneos, além dos poucos concursos públicos que são construídos como a sede do SEBRAE em Brasília (projeto de Álvaro Puntoni) mostram que temos a matéria-prima humana para a transformação positiva do nosso ambiente urbano. A criação do Conselho de Arquitetura e Urbanismo brasileiro, que até então não tínhamos, está próxima, e isso irá ser uma ferramenta importante para conseguirmos colocar a boa arquitetura como prioridade no desenvolvimento das nossas cidades.
Além disso acho que no Brasil nós sempre tivemos limitações técnicas e orçamentárias na criação da nossa arquitetura, e por isso até certo ponto estamos acostumados a fazer boa arquitetura com poucos “recursos”. Ao meu ver esta consciência sobre limitação de recursos e responsabilidade orçamentária são qualidades importantíssimas na arquitetura “pós-crise” de 2008. Ainda que as obras do SANAA ou Peter Zumthor (ganhadores dos recentes Pritzker Prizes de 2009 e 2010 respectivamente) não sejam obras de baixo custo, elas mostram uma tendência da arquitetura que resgata alguns valores modernistas e busca simplicidade formal com sensibilidade, o que vai na contramão dos excessos arquitetônicos dos anos 90 e começo do século XXI.
Texto descritivo - O Pavilhão Rendado
O Pavilhão Rendado é uma galeria de arte de 70m2 que foi construída durante uma exposição de arquitectura e design em Brasília. Sua "pele" externa é composta por uma combinação de 4 padrões diferentes de elementos vazados de betão,
conhecidos em Brasília como "cobogó". Estes blocos vazados foram extensamente utilizados nos corredores de ventilação dos edifícios modernos das primeiras superquadras de Brasília a serem construídas. Além de ser elemento construtivos de baixo custo eles permitem a iluminação natural controlada e ventilação natural aos ambientes onde ele é aplicado. A combinação
dos padrões de cobogós na fachada do Pavilhão faz referência aos tecidos rendados típicos da região Nordeste do Brasil.
A galeria é composta basicamente da superposição de uma caixa negra e de outra caixa branca. A parede negra é internamente utilizada para a exibição das obras do artista brasileiro Carlos Scliar. O acesso à galeria é feito através de uma rampa que conecta o bloco negro da composição ao de cor branca. Externamente esta parede se fecha quase completamente para a fachada oeste (com maior incidência solar) e possui uma camada de cobogós na cor negra sobre uma parede colorida que funciona como uma luminária nocturna. A parte interna desta "lâmpada urbana" pode ser vista através de uma pequena abertura no corredor de entrada.
A porção de cor branca do edifício funciona como uma caixa vazada de protecção solar para a caixa de vidro onde estão dispostas as pinturas, penduradas no teto através de cabos transparentes. Entre a camada vazada e a caixa de vidro se encontra um jardim de esculturas.
fotografias e texto cordialmente fornecidos pela DOMO ARQUITECTOS, direito reservado
Labels: américa do sul, arquitectura, domo arquitectos, interview, matheus secco
10 December 2009
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Pedro Matos, painter
Art musique presents an exclusive interview with Pedro Matos, a portuguese painter...
1. when did you realize that painting was your "art"?
2. what made you choose England to study?
I don't. I am still doing my BFA in Painting in Lisbon. But the plan is to move to London as soon as possible.
3. how would you define your style?
I wouldn't. I am not interested in labels..
4. for you as an artist, does the perception of your work by the public and critics really matter?
I paint for myself firstly, and I try not to think about any of that on the moment I am creating. However, it's always very nice to see people responding to my work.
5. how far are you willing to go in search of originality?
I believe thats something that has to come naturally.
6. which other artists influence you?
Too many to count.. But some of them are Rembrandt, Caravaggio, Micallef, Conor Harrington, Greg Simkins, Charlie Isoe, etc.
7. why the dicotomy of old people vs children very present on your work?
It's not really that way. I was painting children for the first 2 years, and then moved into a different subject matter..
8. what's next? tell us your plans for the future.
I am working for my next solo show in Bristol next summer. I am also working on releasing a glicée print for 2010.
About Pedro Matos - www.pedromatos.org
Born: Santarem, Portugal 1989.
Lives/Works: Lisbon, Portugal.
Education: BFA Painting - Ar.Co - Lisbon
Upcoming Shows
2010 - Solo Show - Bristol, UK
Pedro Matos, painter
Art musique presents an exclusive interview with Pedro Matos, a portuguese painter...
photo - carolina flores
1. when did you realize that painting was your "art"?
About 4 years ago. I wanted to be a pro skater, but skateboarding introduced me to a a lot of the artists that inspired me to start painting, and still inspire me today.
2. what made you choose England to study?
3. how would you define your style?
I wouldn't. I am not interested in labels..
photo - carolina flores
4. for you as an artist, does the perception of your work by the public and critics really matter?
I paint for myself firstly, and I try not to think about any of that on the moment I am creating. However, it's always very nice to see people responding to my work.
5. how far are you willing to go in search of originality?
I believe thats something that has to come naturally.
6. which other artists influence you?
7. why the dicotomy of old people vs children very present on your work?
It's not really that way. I was painting children for the first 2 years, and then moved into a different subject matter..
8. what's next? tell us your plans for the future.
I am working for my next solo show in Bristol next summer. I am also working on releasing a glicée print for 2010.
About Pedro Matos - www.pedromatos.org
Born: Santarem, Portugal 1989.
Lives/Works: Lisbon, Portugal.
Education: BFA Painting - Ar.Co - Lisbon
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